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Maria da Penha Leite

Maria da Penha Leite


Chegou na fazenda Goiabal uma moça muito faceira e muito bonita com um filho nos braços, Messias e mais três meninas, Aparecida ( Nanquim), Ângela e Josete já crescidinhas pedindo abrigo.
A dona da fazenda chamava-se Dona Guinó uma senhora bondosa e compreensiva que a acolheu como uma de suas ajudantes de cozinha. E ela foi ficando por lá.
Cativou a todos com seu jeito simples e sua boa vontade, estava sempre pronta a ajudar sem nunca retrucar.
O marido de Dona Guinó, Sr Tote, um fazendeiro abastado gostava de tudo do seu jeito e com prontidão. Ela ficava doida com ele, sempre na correria para atendê-lo.
 Só que chegou com 4 filhos e foi tendo mais. Porque era faceira a danadinha! Foi ficando por ali, na casa da fazenda.
Quando Dona Guinó ficou doente, morreu de tuberculose, a única que deixava cuidar dela era a Penha. Sempre com muito deslevo e dedicação. Quantas noites dormia sentada ao lado da cama da doente para atendê-la imediatamente quando chamava.
Acompanhava-a onde morasse, ora era Funil, ora Santo Antônio de Pádua, ora na fazenda sempre para se tratar dessa doença que a matou.
Os filhos da Penha iam nascendo e só se fazia meninas...por ironia do destino, ela já  tinha a três e nasceram  mais quatro: Flávia, Jussara, Valéria e Bárbara
As minhas lembranças da Penha são sempre de minha mãe de leite, não sei por que, mas isso ficou na minha cabeça.  Sei que foi nossa babá, minha e das minhas duas irmãs, lembro-me do seu colo macio, da paciência que tinha com a gente e dos seus peitões enormes  
Quando morava conosco em Funil quase sempre ficava agarrada no ferro de passar roupa elétrico, e gritava desesperadamente:   
 -Dona Dalca, socorro!!!
E quando minha mãe falava que tinha que passar roupa,  preferia o ferro á brasa porque nesse não tinha como ficar presa.
Lembro-me que depois que minha avó se foi ela ficou sendo protegida pela minha mãe e meu avô.
Quantas vezes, nós crianças ainda, na fazenda,  íamos até a casa da Penha a cavalo e lá éramos recebidos tão bem que não queríamos mais ir embora. 
Era um barraquinho simples, como de todo cabloco na época, chão de barro, paredes de pau a pique,  mas como era limpinho e que água fresquinha ela nos dava. Sempre com um sorriso nos lábios. Para  ela tudo estava bom.
E a filharada crescendo na altura e quantidade.
Mulher de fibra,  de um homem só, nunca reclamou ser a segunda,  nunca fez escândalos. 
Se o pai das crianças não ajudava, ela ia à luta e criou praticamente sozinha a filharada, netos do abastado fazendeiro.
O avô das crianças e meu também,  tentou de tudo para ajudá-la e com o restinho de dinheiro que tinha, porque ao longo do tempo perdeu tudo, comprou para ela uma casa na cidade (já tinha saído da roça) em que morava.
 E pasmem, foi morar com ela. Era lá que ele se sentia em casa. Afinal essa mulher simples esteve com ele à vida toda.
Meu avô doente não foi casa de nenhum filho, ficou lá. 
Era tinhoso o velhinho! E mais uma vez essa mulher de fibra deu conta do recado, cuidou dele muito bem até o fim dos seus dias e agradeço a ela imensamente o que fez.
Para se ter uma idéia, ela era uma pessoa muito especial para a família Sorrentino que ninguém, ninguém mesmo, reclamou da única herança deixada por ele ser dada a ela.
E com isso ela ganhou uma casa, mas não o sustento e continuou a sua luta trabalhando na casa dos outros, mas se um de nós precisasse de alguma coisa, ela estava lá, sempre pronta e com um sorriso nos lábios.
Sinto tanto não ter feito mais por ela e não ter curtido mais um pouco essa mulher tão maravilhosa que foi a Penha.

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